Curada, brasileira em Boston diz que covid mudou a forma como vê a vida

Curada, brasileira em Boston diz que covid mudou a forma como vê a vida
Tatiana perdeu emprego por causa do coronavírus Arquivo pessoal / Tatiana de Souza

Tatiana de Souza, de 39 anos, mora há 25 anos na região de Boston, Massachussets (EUA). Dia 25 de março um exame constatou que a técnica em enfermagem estava com o novo coronavírus.

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Foram 14 dias confinada em um cômodo da casa, sozinha. Só saía para  tomar banho e mesmo nessas horas não podia se aproximar do filho de 5 anos, de uma enteada de 18 e do marido.

A comida era deixada na porta na hora das refeições. "Eu buscava sem ver ninguém e depois devolvia o prato, desinfectado. Até xixi eu tinha de fazer num potinho, para não ter que sair do quarto toda hora. Foi tudo muito solitário e triste."

O novo coronavírus destruiu sua saúde: desenvolveu tuberculose, tinha dores terríveis na garganta e, várias vezes, achou que poderia acontecer o pior. "Ter covid é ficar 14 dias ao lado da morte", diz.

O contágio levou também seu emprego. "Eles me mandaram embora porque fiquei doente. Mas é bola para frente, as coisas vão melhorar e já tenho um novo trabalho em  vista."

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A carioca Tatia era técnica em enfermagem em uma clínica particular de Boston de 8h às 20h e convivia com doentes de todos os tipos há quase dois anos. Assim foi infectada, acredita. "Fiquei muito assustada. Tive medo de contaminar minha família e não me recuperar."

As dores na garganta começaram no fim de semana de 21 e 22 de março. Como não teve febre, tomou iboprufeno para aliviar. "Não sabia que não podia e também não achei que poderia ser essa doença." 

Fez o teste para o coronavírus apenas por desencargo, aproveintando-se do acesso aos exames da clínica. No dia 25 veio o resultado positivo. "Tentaram me internar por causa da pneumonia, mas como eu tenho um aparelho que mede respiração, vi que minha saturação estava alta. Por isso não aceitei ser entubada", recorda.

Agora, livre da doença, cadastrou-se na lista dos beneficiados do programa de ajuda do governo federal no valor de US$ 1.200, pagos em uma única parcela. Vai ganhar mais US$ 600 por ter uma criança. 

O governo do presidente Donald Trumpo aprovou no Congresso uma ajuda semanal de US$ 600 às famílias que tiveram problemas com o coronavírus até 31 de julho.

Veja os detalhes do pacote trilionários dos EUA contra o coronavírus 

Tatiana deve receber ainda o seguro desemprego no valor de 100% do que recebia em seu trabalho anterior. O percentual costumava ser de 70%, mas foi elevado no período da pandemia.

Os planos de viagem foram cancelados, assim como as aulas na Faculdade de Enfermagem. "A única certeza que tenho de planejamento é servir a Deus  intensamente porque ele me deu mais uma oportunidade de viver."

Daqui em diante quer ficar mais tempo com a família e se preparar para novas emergências. "Quando isso tudo acabar e a situação voltar ao normal, vou gastar menos com coisas fúteis e guardar dinheiro para situações como essa de agora."

Tatiana conta que outros brasileiros em Massachussets, estado americano repleto de brasileiros, estão em situação muito pior que a de sua família. "Temos muitos grupos de apoio e, na medida do possível, mantemos contato. Sei de gente que está realmente passando fome, sem dinheiro e nenhum trabalho por causa do isolamento", lamenta. "Tomara que isso tudo acabe logo e não morra tanta gente, mas confesso que estou pessimista", afirma a brasileira.

 

Noticias Boas: Marco Rogério Lopes