O LEGADO DE UMA BATUTA, MAESTRO JEHÚ UM EXEMPLO A SER SEGUIDO

O LEGADO DE UMA BATUTA, MAESTRO JEHÚ UM EXEMPLO A SER SEGUIDO
FOTO ARQUIVO DA FAMÍLIA

O LEGADO DE UMA BATUTA

Por: Jehú Junior

Até onde se sabe, o legado da Família Serrado teve inicio com o senhor Sebastião Serrado, o qual era maestro de banda no interior do Estado de São Paulo. Em 10/06/1956 seu filho o Hipólito Serrado (cantor, violonista, compositor e maestro do coral) casou-se com Jurandi Vieira (solista do coral da igreja). Deste casamento geraram 12 filhos, e posteriormente foram acrescidos mais 02 (oriundos do segundo casamento de Jurandi com Sebastião de Alcântara). Nessa família de músicos, até a última contagem, já se contabilizam 39 netos(as) e 38 bisnetos(as)

No dia 01/03/1957, nasceu o filho mais velho Jehu Vieira Serrado. Sua brincadeira favorita na infância era colocar os irmãos para batucar em latas e panelas enquanto ele cantava os hinos da igreja, sua primeira banda.

Autodidata, Jehu aprendeu a tocar violão muito pequeno. Aos 13 anos já tocava piano e participou da primeira banda do SESI em Três Lagoas, tocando lira.

Dono de uma voz potente, Jehu participou e ganhou diversos festivais solo e também participou da banda da igreja Assembleia de Deus Ipiranga, juntamente com ícones da musicalidade cristã de sua época. Além de músico, Jehu também limpou piscinas e era bom pintor.

Jehu participou da corporação da Banda Marcial Cristo Redentor TriCampeã Nacional, em apresentações na TV e gravações dos 02 LPs da banda que tanto orgulha a população treslagoense.

Jehu participou ativamente da era de ouro dos concursos de bandas e fanfarras entre as escolas municipais e estaduais que ocorriam no aniversário de Três Lagoas. Criou e ajudou a formar diversas corporações de escolas como H. Alonso Gonzales, SESI, Afonso Pena, Maria Eulália, São João, João Ponce e Jomap. Deu aulas de música, violão e instrumentos de sopro em diversas igrejas, formou corais e conjuntos musicais por onde passou, formando uma geração de adoradores.

Jehu compôs mais 500 músicas e teve mais de 300 delas gravadas por cantores cristãos de todo o país. Acolheu e ajudou muitas pessoas. Por sua influência o ex-prefeito Miguel Tabox doou para a igreja Assembleia de Deus Ministério Três Lagoas o terreno onde hoje encontra-se sua sede nacional, no bairro Santa Rita.

Aos 19 anos Jehu casou-se com Sônia Rocha de Araújo e deste casamento geraram Jehu Júnior e Juliana. Júnior herdou do pai a habilidade com instrumentos de sopro e regência de bandas, ajudou o pai em algumas corporações e sempre lecionou música na igreja e dirigiu a banda da Assembleia de Deus Ministério Três Lagoas por 02 anos. Juliana aprendeu a cantar aos 03 anos de idade sentada no colo pai, o qual tinha prazer em gravá-la sempre. Juliana é considerada uma referência como cantora cristã em Três Lagoas, adorando à Deus em igrejas e também em eventos sociais. Jehu Júnior é casado com Kelly e tiveram 03 filhos: Maria Carolina (in memorian), Davi Luiz e Pedro Gabriel. Juliana gerou a Beatriz e é casada com Deivid.

Com a notoriedade relacionada às bandas e fanfarras, em 1990 Jehu mudou-se para Ribas do Rio Pardo e criou a Fanfarra Simples Municipal Gilberto Fogaça. Lá obteve grande êxito e levou a corporação a participar e ganhar inúmeros concursos estaduais e nacionais, levando o nome de Ribas a diversos cantos do país, chegando a viajar à longínqua Socorro a quase dois mil quilômetros. A Fanfarra Gilberto Fogaça causava delírios por onde passava por causa sua “raça”, garra e musicalidade. Não faltam relatos de ex-alunos gratos pelas correções e implicâncias de Jehu pela perfeição, comprometimento e responsabilidade com as atividades relacionadas à fanfarra. Por meio deste trabalho várias outras bandas foram formadas por todo Estado e fora dele por ex-alunos(as) de Jehu.

São incontáveis as declarações de amor e gratidão de seus alunos. Deixo aqui registradas algumas como exemplo:

Luto ao nosso querido e eterno Maestro Jehú Vieira. O Homem que transformou vidas, ser humanos, cidadãos do bem, pessoas de caráter e fez muitos descobrir o gosto, o amor e a importância da música. Escreveu sua história Jehú Vieira por onde passou deixou sua marca, seu legado de um bom profissional e competência. Fanfarra Simples Gilberto Fogaça de Ribas do Rio Pardo, quantas e quantas vezes ouvimos essa locução que arrepiava, contagiava, emocionava a todos quando rompia sua marcha e seus dobrados. Com aquela raça, com aquele amor estampado no rosto de cada integrante. Deixo aqui os meus mais sincero agradecimentos a você maestro a quem me espelho muito hoje o meu trabalho. Minha eterna gratidão por tudo que aprendi com você. Vou levar comigo para sempre as boas lembranças, os melhores momentos de minha vida. O legado e o aprendizado por toda vida vai com Deus meu maestro eterno Jehú Vieira. Meus mais sinceros sentimentos a família e descanse em Paz Maestro Jehú Vieira. (Walteir Camilo)

E assim nos despedimos do nosso maestro Jehú Vieira Serrado. Essa foi a última música que ele regeu aos seus alunos da Fanfarra Gilberto Fogaça. "Amigos para sempre". E seremos sim amigos para sempre. Por mais doloroso que possa ser perder uma pessoa querida, estamos felizes pois o seu sofrimento acabou. Que Deus te dê o descanso eterno! (Marcia Coene)

Tive a honra e o prazer de ser aluno do grande Maestro Jehu na Gilberto Fogaça de tantos títulos e histórias. Marcha sempre marcante, garra, força e união. Um Maestro que muito ensinou e contribuiu. Será para sempre lembrado em nossos corações. Descanse em paz Maestro Jehu. (César Tremeschin)

Jehu também trabalhou com bandas a fanfarras nas cidades de Brasilândia (onde também compôs o hino do Município), Água Clara, Inocência, Glória de Dourados, Bandeirantes e Jaraguari.

Jehu casou-se novamente com Rosangela Inês Borges e geraram a Jehu Lucas e Karla. Jehu Lucas tem seguido os passos do pai, é um excelente músico (tecladista, violonista e trompetista) e maestro. Já tomou conta da Banda Municipal de Água Clara, é professor da escola Cecília Meireles e da Escola de Música Jehu Vieira. Karla é cantora, e assim como a irmã mais velha, também foi incentivada desde pequena a cantar com o pai. Jehu Lucas hoje é casado com Bruna e tem a pequena Isabele.

Como escreveu sua sobrinha Lidiane Serrado Mantelato: "A batuta nem sempre é justa com todos (...) o anonimato e a baixa remuneração são a realidade de muitos virtuosos natos que exercem a função por trás de uma batuta (...) a batuta passa a exige resiliência diante da ingratidão e do desdém de muitos (...) a batuta nem sempre permite viver presencialmente um aniversário, um casamento, ou o luto de um familiar pelo compromisso dos ensaios e apresentações. Mas ela está sempre presente em eventos públicos de relevância, civis e pátrios (...) segurar uma batuta frequentemente traduz a necessidade de ser forte diante de uma vida que não te deu a oportunidade de ser fraco. Quando muitos te olham e você se torna um referencial, seu senso de responsabilidade não te dá outra opção senão amadurecer. Na vida desses que deram a vida pela batuta, que ela ao menos seja o símbolo do legado deixado pelos maestros leigos que exercem a profissão de maneira exemplar. Que as vidas que foram transformadas pela música em bandas e fanfarras possam tocar em alto e bom som a importância dessas pessoas que assumem, por amor, o preço de uma batuta."

Enfim, Jehu terminou sua carreira, após mais de 07 anos lutando contra a diabetes e suas debilitações. Descansa um guerreiro, violonista talentoso, cantor como poucos, apreciador da boa música, que compôs incontáveis canções de adoração a Deus, que formou tantos músicos, que influenciou uma geração. Sempre será lembrado e amado por todos que o conheceram.