A mudança radical do mundo do trabalho exige estratégia para fortalecer os sindicatos

A mudança radical do mundo do trabalho exige estratégia para fortalecer os sindicatos
Divulgação

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Começou na manhã desta sexta-feira e segue até amanhã, em Brasília, a Reunião do Coletivo Jurídico da CNTE. Heleno Araújo, presidente da CNTE, abriu os trabalhos destacando a presença de representantes das entidades filiadas à CNTE de todas as regiões do país e falou a importância desse encontro: debater a preocupação mundial sobre o ataque às organizações sindicais e buscar estratégias para tornar os sindicatos mais fortalecidos. Gabriel Magno, secretário de assuntos jurídicos, afirmou que coletivo jurídico está submetido à política, daí a programação de abertura tratar da conjuntura.

Clemente Ganz Lucio, Diretor Técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos sociais (Dieese), abriu o primeiro painel sobre os direitos sindicais no atual cenário político e jurídico brasileiro, com uma fala impactante: “Nós corremos o risco de sermos coveiros do atual sindicalismo e precisamos nos organizar estrategicamente para enfrentar essa realidade. Isso porque o sistema produtivo está mudando visivelmente”.

Segundo Clemente, o que está em curso é uma mudança radical na propriedade das empresas, onde os donos são os acionistas dos grandes fundos de investimento, ¾ do resultado econômico da produção vai para esses acionistas e ¼ vai para o investimento no negócio. Isso, por si só, muda o modelo das empresas e neste modelo os sindicatos estão fora. Isso acontece no mundo todo, inclusive no Brasil.

Nesta transformação do sistema produtivo, o padrão regulatório também está diminuindo. Desde 2008, 132 países já fizeram reformas trabalhistas, flexibilizando a lei ou reduzindo o poder do Estado. Para ele, a flexibilidade institucional está posta. Atualmente, no Brasil, 15% dos empregos formais são trabalhos intermitentes. As empresas estão liberadas para se organizar sem resistência do Estado e sem pressão do sindicato. E o Estado também está buscando a terceirização. A prova disso é a redução dos concursos públicos.

Parte da mudança que está em curso é patrimonial e tecnológica. Nesse ambiente, as máquinas estão dando um salto disruptivo que substituem centenas de trabalhadores. “Essa reforma trabalhista serve para demitir e colocar máquinas no lugar. No setor público, por exemplo, há pesquisas que a população prefere atendimentos virtuais”, enfatiza Clemente.

É fato que há uma expansão das forças conservadoras e autoritárias e, no Brasil, o pêndulo está indo para a direita. Neste contexto histórico, temos um dos sindicalismos mais importantes do Planeta, mas estamos representados por milhares de sindicatos enfraquecidos. “Esse sindicato que divide os trabalhadores, acelera a nossa morte”.

Qual é a nossa agenda? Um em cada cinco empregos é informal. A força de trabalho está fora da representação sindical. E o jovem que está nesse novo mundo não está nos sindicatos, mas é ele quem vai fazer a nossa agenda. E é para ele que teremos que nos reorganizar em um sindicato que faça sentido nessa realidade e que preste serviços para esses trabalhadores. Nós temos a tarefa de criar um novo modelo sindical, que agregue e fortaleça.
Nesse sentido, as Centrais Sindicais estão preparando um marco de referência básico sob a égide da liberdade sindical e manutenção dos empregos, para atuar no Congresso Nacional com uma intervenção propositiva.