A hora de trabalhar
A vida vai voltando ao normal, apesar da pandemia ainda preocupar, e muito. Mas as medidas de dotar o país de um mínimo de condições de atender aos casos mais graves, que exigem internação de longo prazo e cuidados especiais, sugerem a volta da normalidade, que já ocorre em muitos estados e setores da economia.
Essa calmaria política, permitida pela retração do presidente de suas declarações mais polêmicas e o recato provocado pela COVID-19, que enfrenta agora no campo pessoal, sugere que o Congresso vote logo as reformas que são imprescindíveis para se tentar captar investimentos estrangeiros ao Brasil. Antes, não conseguimos ter estes capitais, preciosos na geração de bons empregos e bons contribuintes, pelas barreiras na legislação trabalhista, tributária, alfandegária e pelo gargalo na infraestrutura. Hoje, a situação pede urgência na abertura, pois não só nós estamos precisando sair do buraco que a pandemia nos botou, mas o mundo todo. Temos, sim, vantagens, se vencermos esta mentalidade de quinto mundo de burocratas e políticos, além dos palpiteiros de sempre, pois o Brasil tem sido, desde o pós-guerra, hostil ao capital, a novas tecnologias, a parcerias. Deixamos espaços para o surgimento dos chamados tigres asiáticos. Nós e América Latina, onde o subdesenvolvimento cultural é mais grave que o econômico e social. Basta lembrar o absurdo da reserva de mercado na informática que provocou imenso atraso na nossa indústria.
É preciso coragem de enfrentar interesses cartoriais do grande capital industrial e fazer crescer a Zona Franca de Manaus, onde estão os melhores empregos, a melhor tecnologia e a maior arrecadação da região norte. É preciso uma meta de 150 mil empregos. E no Pará estimular os investimentos da VALE, que por sí só garantem o crescimento do Estado. E olhar o Rio abandonado.
Até o presidente Bolsonaro, que apoia as ideias liberais e progressistas do ministro Paulo Guedes, vez por outra tem uma recaída e aceita manter a presença estatal onde não deve estar. Já fez muito em conter o corporativismo da máquina pública, inchada e ineficiente e que precisa da reforma que abre caminho para que o mérito seja considerado nas carreiras públicas. Não é possível a disparidade entre vencimentos públicos e privados; é injusta e cruel.
Possivelmente, com este governo, estamos tendo a última chance de afastar este tipo de cultura menor, motivo maior do drama latino-americano em geral. Infelizmente só em nosso continente proliferam regimes como os bolivarianos da Venezuela, Nicarágua e Equador, além da ditadura férrea de Cuba. Todos impondo restrições à liberdade de opinar e de comer. A fome e o racionamento são partes do cotidiano destas populações. Na Venezuela, existe um apagão de bons profissionais e o governo aproveita e importa serviços de Cuba, Irã e Rússia, em detrimento dos venezuelanos que lá permaneceram.
A demora em aprovar as reformas e em tocar as privatizações emperradas pode ser fatal. Para o governo e para o Brasil. Quem viver verá!
*Articulista e escritor
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